sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Adaptação de Aleatoreidades (SIC)

    Na maior parte das vezes, as pessoas só repetem. Não inventam nada, apenas reaplicam as coisas. Piadas, expressões, padrões. Existe uma rara exceção de pessoa que cria suas piadas, suas expressões, mas tudo que fazem é adaptar aleatoriedades, de modo que fiquem engraçadas, dêem uma lição de vida ou o que quer que seja. Você pode pensar que alguém conta ótimas piadas, mas tudo que este tem é recurso para conhecer novas piadas. Tudo que ele sabe é contar as piadas de uma maneira engraçada. Você pode pensar que alguém surge com neologismos sagazes que realmente grudam na cabeça, mas tudo que ele fez foi ouvir alguém de outro círculo de convivência dizer e saiu transmitindo para qualquer um que se encontre em sua intersecção. Tudo isso acaba se tornando um círculo vicioso, chegando ao ponto que tudo volta para seu criador como se nem fosse mais criação sua. E ao ouvir, tal criador diz "eu que inventei isso" e acaba taxado de arrogante.
    Infelizmente, não se dá crédito a quem merece sob pena de perder credibilidade. Como correntes de e-mail. Textos horríveis que alguém escreveu. Mas este alguém, que a princípio tem medo de que não o leiam por ser de autoria praticamente anônima, coloca autoria de algum escritor famoso qualquer. Fernando Pessoa se for um pouco rebuscado e houver qualque menção a palavra amor, Luiz Fernando Veríssimo se for uma crônica bem humorada, Arnaldo Jabor se for uma crítica política. Mas, neste momento, todas as ideologias de tais escritores se perdem. Um texto que pende para a esquerda nunca poderia ser de Jabor. Um texto que clama por deus na vida moderna nunca poderia ser de Veríssimo. Um texto romântico de auto-ajuda nunca poderia ser de Pessoa.
    Atribuímos autoria à quem não merece. Para o autor, é um castigo por ter sua cria negada. Castigo também para aquele à quem se atribui, pois este pode ter atrelado à si textos que nunca escreveria, não por falta de capacidade, mas por não concordar com todas as idéias ali escritas.
    Piadas, textos, produtos. Tudo se perde na vida moderna pois todos têm acesso a tudo e nada é de ninguém. Direitos autorais? Pra quê? Ninguém mais pode viver da palavra.