terça-feira, 26 de junho de 2012

Juntar As Camas

Dividíamos a casa, mas não o quarto.
No seu quarto, havia uma televisão, que você colocava pra fora, pela janela, quando precisava de espaço.
Em um dado momento, começava a chover, e corríamos para cobrir sua tv.
Minha bicicleta, que roubaram, estava em frente da casa, como se tivessem encontrado-a no terreno baldio ao lado. A bicicleta estava suja de terra, raizes e grama seca.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Céu Flocado

Acordo com vontade, não de acordar, mas de viver o futuro. Sinto falta do real e esperança há. O problema é que ainda não sei o que são boas notícias em meio a tantos acontecimentos.
O banco da praça, o céu flocado, o cigarro queimando o dedo, as lágrimas arrombando as pálpebras...
É você. A confusão. A esperança. O medo.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Proto-Proteção

Como um homem que deixa seu guarda-chuva aberto, mas não se cobre por ele.
Como um homem que tem a crença em Deus, mas nega sua proteção.
Como um homem que sabe nadar, mas enche os pulmões de oceano.
Como um homem que tem plena ciência dos perigos do cigarro, mas fuma.
Beber cicuta é para os fracos, eles dirão.
Se cortar é para os fracos, eles dirão.
Ora, deixe que digam.
O que eu sou não é digno da vida real.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Tumor

Nalguns momentos parece que as setas ganham pontas de novo. Parece que o futuro ganha sintomas. E novos motivos parecem me mover (pouco, mas me movo). O tédio tende a piorar tudo, mas ele, às vezes, é espantado por palavras de fontes e significados surpreendentes. Tento dizer tudo, sem dizer nada. O tic-tac do relógio parece um come-come, comendo a minha vida. O autor disso é meu alvo. Mas eu não quero acertar esse alvo. Os tiros que dou nunca acertam onde quero, melhor parar de atirar. Instiga, mas é placebo. É um tumor que eu tenho que extirpar, removendo a menor quantidade possível de carne saudável. Acho que se não sobrar nada, ainda vai faltar muito. É essa a fome que tenho.

sábado, 16 de junho de 2012

Rehab De Atenção

Como todas as drogas, a atenção pára de fazer efeito depois de muitas doses.
Mas às vezes, surge um tipo novo no mercado. Um tipo novo de atenção.
E o vício se renova.
A atenção antiga já não faz efeito algum,
talvez piore a vontade da nova atenção,
como quando você tem um pouco do que quer e isso só instiga ao todo.
O passado assombra e o futuro assusta.
Solução é que a humanidade me ignore, num quarto fechado,
até que me acostume a viver sem atenção alguma.
É doloroso, como todas as drogas.

sábado, 9 de junho de 2012

OffOnOffOnOff

Nunca conheci ninguém com tanto talento pra gastar dinheiro. Ela me enchia de presentes. Devia ser pra compensar o desleixo com o seu corpo. Nunca fomos um casal.
Como todas, havia algo da C. nela. Algo que me atraía e eu, sem saber, caía de joelhos. Agora que sei, sou vacinado. Claro, agora que C. se foi, eu deveria não ligar e cair de joelhos, entregar o controle para qualquer uma que fosse.
Eu, mais romântico que nunca, acho que deveríamos parar de romantizar tanto as coisas.
Procurar sentido em tudo.
Dor extrema não dói nada, mas tristeza não é dor. Nem tédio.
A luz acende e apaga, acende e apaga, acende e apaga, e pára.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Convulsão

Essa memória exige ser o centro das atenções o tempo todo. Convulsiona enquanto tento dormir. Até morrer, mas é imortal.
Dor que dói sem ter foco. Sem ter onde doer.
"Onde dói?" diz o médico.
"Todo lugar, mas nenhum deles, doutor."
Convulsiono junto, abraçado à memórias que nunca tive.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Dog Problems II

A única coisa útil que tenho feito é dormir. Útil por que descança o corpo. Descança de quê, eu não sei.
Quisera ter controle sobre meu vício e não ter que esperar a luz do sol pra dormir.
Reconhecimento seria legal. Talvez desse ânimo pra produzir mais. Talvez desse desculpa pra ser ainda mais vagabundo.
Saudades de Paris.
Saudade da cama na parede oposta e conversas na madrugada.
Todo texto que escrevo parece ser uma carta pra mesma pessoa. Como se eu tivesse que contar o que venho sentindo.
Cartas para um destino inválido.
Testei imaginá-la, pra conversar comigo, mas não deu. Hora de dormir.