domingo, 29 de novembro de 2009

Br 2

    Eu estava na sala, quando ela me chamou.
- Vem cá, vou te mostrar uma coisa!
- Você não vai me trancar em nenhum lugar não né?
- Te trancar? Não..
    Entrou numa pequena sala, praticamente escura, e parou em frente a um mural de recados.
- Vem!
- Você não vai me trancar mesmo?
- Não! Como que eu vou te trancar estando aqui dentro?
- Verdade.
    Entrei e ela me roubou um beijo e saiu correndo. Fiquei parado, tentando entender o que tinha acontecido. Quando voltei a mim, ela já não estava em lugar algum.
    No dia seguinte, fiquei apenas sentado, esperando, meio com cara de bobo, perdido nos sentimentos, misto de culpa e prazer. Eu sei que ela costuma agir sobre impulso e às vezes se arrepende tanto do que faz que quase cava um buraco no chão para se esconder.
- Oi... Olha, a respeito de ontem, eu cometi um erro, esquece o que eu fiz.
- Um erro?
- É. - e se afastou.
    Terminei de me perder nos sentimentos, dessa vez com a cara mais triste que eu imagino ser capaz de fazer. Não por querer. Impossível esquecer agora. Impossível perdoar esse erro. O meu presente, que tanto se preocupa com meu futuro (sou grato por isso) estava prestes a virar passado. Junto com os planos. Comecei a desmoronar, tudo que acreditava não existia mais. Eu queria, juro que queria, acreditar ainda. Juro que queria fazer dar certo. Mas era tarde. Pensamentos de traição inconseqüente inundavam minha cabeça. Mas ela notou o erro. E tentou remediar. Se eu ignorasse, ela ficaria para sempre na minha galeria de amores perfeitos. No meu pedestal. Linda e distante. Tudo que eu sempre quis, sem os defeitos que eu não tive a chance ou o tempo de notar. É lá o lugar dela. Memória. Imaginação. E é lá que ela vai ficar. É lá que o beijo aconteceu.