quarta-feira, 10 de agosto de 2011

UK-009

Há o dever de ser algo. Viver em sociedade implica em aceitar e perseguir este dever. Ser. Trabalhador ou ladrão, ativo ou passivo, alegre ou triste. Não se pode ser nada. E aos que querem ser, há os rótulos, aplicados erroneamente: vagabundos, idiotas, apáticos.
Loucos.
Há vários tipos de loucos, mas, no fundo, loucos são apenas aqueles que não se encaixam. Para os loucos, suas loucuras são corretas. A minoria louca acha a maioria louca. Mas quem garante não ser o inverso? A maioria não necessariamente está certa.
Mas estou fugindo do foco aqui.
A sociedade espera que seus membros queiram crescer. Queiram ser mais ricos, mais bonitos, ter mais parceiros sexuais, ou ter apenas o melhor de tudo. Viver para sempre. É óbvio que em nenhum desses casos, jamais haverá satisfação plena.
A sociedade, pois, espera que alcancemos o impossível. E condena àqueles que reconhecem essa impossibilidade.
Não há direito de ser nada. Não há o direito de cessar a existência por puro tédio. Não podemos constatar o beco sem saída que é a vida, a não ser que seja para ignorar-mos.
Não podemos morrer pelas próprias mãos sem motivos. Em grande parte do mundo, nem mesmo com motivos. Tudo deve ter conseqüências. Nada pode ser nada.
Mas este direito, tudo devia ter.
E este é o discurso pelo direito de ser nada.